sábado, 17 de outubro de 2009

Desde que não chova (continuação_2)


Um pequeno-almoço ligeiro e apressado, com o Luís impaciente, e já estavam a sair do café cinco minutos depois. Iam a uma vila ali perto, a casa de um primo do Tó, buscar um barco para levar margem acima até ao porto que juntos construíram há anos para ser mais fácil irem pescar. Umas tábuas pregadas e amarradas a umas árvores, junto a uma pedra enorme que estava ali desde sempre, era a isto que chamavam porto. Algumas horas depois já lá estava o barco, amarrado e com os remos presos.

Voltaram para o centro, mesmo a horas da missa. Entraram pelos fundos, sentaram-se separados por alguns metros, junto da família. Luís, já só pensava onde estaria Leonor. Olhou à volta, procurou um rosto claro e brilhante mas não o viu. Nem a família. Estariam atrasados? Ou simplesmente não os encontrava? Durante a missa, percorreu com os olhos todos os rostos que conseguia alcançar, sem sucesso. No final, enquanto a procissão se preparava para sair, procurou-a novamente.

- Tó! Viste a Leonor?

- Não… E tu?

- Também não. Será que se atrasou?

- Não sei. Talvez. Agora vai sair a procissão, esperamos no jardim que ela passe. É melhor irmos já na frente senão depois não passamos.

E foram. Já estavam no jardim do centro, bonito como há muito não se via, quando a procissão passou. Passou o Bispo, passaram os andores, os meninos da comunhão, os crentes, passaram todos, menos ela.

- Tem calma. Ela pode ter-se atrasado no caminho – Disse o Tó percebendo que o Luís se começava a preocupar a sério.

- Calma… calma… ela já devia cá estar! – Luís já não conseguia disfarçar a impaciência – Não sei o que se passa.

- Ela respondeu-te à carta que lhe envias-te? Disse-te que vinha?

- Não. Se calhar nem a leu. Sabes como é o pai dela. Mas ela vem sempre, já tinhamos falado sobre a festa. Porque não havia de vir este ano?

- Sei lá. Mas tem calma. Vamos almoçar e depois vamos ter ao baile. O importante é o baile, Luís.

- Está bem. Vê se não te atrasas.

- Ok. Até logo.

No caminho para casa, Luís já não disfarçava o desconforto. Esperava tê-la visto com um vestido cor-de-rosa, com os cabelos soltos e a pele clara, como sonhara noites a fio. Mas não viu.

Chegou a casa depois da família, que o esperava para o almoço. Sentou-se à mesa e mal falou. Só pela sobremesa o pai insistiu em ouvir a opinião dele sobre os gastos da comissão festiva com a procissão desse ano. Foi parco em palavras, respondeu sucintamente, e saiu de cena. Aguardou pelo café, pelo digestivo e impacientemente foi dar um curto passeio a pé com o pai e o avô, para verem como cresciam as macieiras ao fundo dos terrenos.

- Luís, então como estão as namoradas? – atirou o avô, a cortar o silêncio de meio da tarde.

- Namoradas avô? Não há namoradas.

- E nenhuma debaixo de olho, aqui na vila? – disse o pai.

- Não. Quer dizer, tenho amigas, algumas interessantes, outras nem tanto, mas não mais do que isso.

- Olha que eu quero ter bisnetos antes do descanso final! Um catraio para jogar comigo à bola e para me levar a passear… Vê se te despachas rapaz! És jovem, bonito e inteligente, decerto muitas já te têm fisgado.

- No tempo certo avô, no tempo certo…

Voltaram depois para casa, preparar-se para o baile. Luís foi o primeiro a sair. Chegou ao jardim pouco antes do Tó. As pessoas estavam a chegar, a confusão já era de notar e a música já soava bem alto.

- Já a viste? – disse o Luís assim que o Tó se aproximou.

- Não, tou a chegar agora. E tu?

- Também não. Vamos dar uma volta, pode ser que já esteja aí…

(Continua)


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